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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Timidez patológica ou Fobia Social



“TO BE OR NOT TO BE” (Ser ou não ser).
Situações de dúvidas, incertezas e inseguranças, as quais estamos expostos no dia-a-dia, que nos causam certo grau de desconforto e ansiedade são consideradas normais e, muitas vezes, até necessárias para nos prepararmos para determinadas exposições ou decisões que teremos que tomar.
Mas quando este grau de ansiedade é intenso que nos arrebata com medo exagerado, que precedem a novos compromissos sociais; na dúvida constante de uma simples escolha ao comprar uma roupa; se estamos vestidos adequadamente; se estamos tendo um bom desempenho frente aos olhos de terceiros e sempre preocupados com a nossa imagem, reação e aprovação do outro, podemos estar diante de um Transtorno de Ansiedade.
Sintomas físicos involuntários como taquicardia, sudorese, tremor, rubor, sensação de desmaio, dor de cabeça, urgência urinária, náuseas, diarréia, aos quais somos submetidos, associados ao medo e a preocupação exagerada com a avaliação de terceiros, compõem o quadro clínico do Transtorno de Ansiedade Social (TAS) ou Fobia Social.
O medo, a prevenção e o cuidado, quando em equilíbrio, são saudáveis e necessários para a preservação da espécie. Mas quando o exagero nos causa esquiva e incapacidade de interação com os demais (principalmente pessoas fora do nosso ambiente familiar) ou exposição em situações sociais, deixamos de ser simplesmente tímidos. Estamos diante de um quadro de Fobia Social, também conhecida como Timidez Patológica.
Estes sintomas de ansiedade, de medo intenso, de sensações de pânico e de incapacidade que, muitas vezes são paralisantes, devem ser diferenciados de outros Transtornos de Ansiedade como o Transtorno do Pânico (medo súbito e extremo) e a Agorafobia (medo de permanecer em locais de difícil acesso ao socorro), por exemplo. Nestes dois últimos transtornos, os sintomas desagradáveis são de curta duração (embora intensos) e repentinos, mas não estão associados diretamente à preocupação prévia e exagerada do indivíduo ser observado ou avaliado negativamente por outras pessoas, do medo do escrutínio em situações sociais, gerando esquiva destas situações.
Tanto no Pânico quanto na Agorafobia, a situação de esquiva é atribuída ao medo de uma nova crise, rica em sintomas de ansiedade (sudorese, taquicardia, respiração ofegante, etc.), porém sem estar relacionada à interação social. O paciente com Transtorno de Pânico ou com Agorafobia, por temer uma nova crise, acaba por evitar determinadas situações ou eventos, no entanto não se esquiva de exposição social.
Quem tem Fobia Social apresenta muito mais do que uma simples timidez. O tímido, mesmo que tenha um comportamento inibido e que sofra de ansiedade antecipatória a respeito do seu desempenho, é capaz de reconhecer uma resposta positiva nas outras pessoas durante um encontro social e de interagir. Já o Fóbico Social é incapaz de tal reconhecimento e a interação social quando ocorre é com muita dificuldade.
O Transtorno de Ansiedade Social (TAS) ou Fobia Social tem como principal característica o medo de embaraço e humilhação diante de terceiros, causando intenso sofrimento e muitas vezes evitação e isolamento social, que pode ser confundido com o isolamento nos quadros de depressão, onde este é causado pela falta de vontade de interação social.
Na Fobia Social também devemos diferenciar as situações de esquiva devido a outros transtornos neuropsiquiátricos pré-existentes. Como exemplo podemos citar as pessoas que sofrem de Parkinson e que se sentem constrangidas com os tremores involuntários e outros sintomas aos quais são expostos.
Outro dado importante é a situação da ansiedade antecipatória, que na Fobia Social pode durar dias ou semanas, ricas em sintomas de ansiedade, noites mal dormidas, pesadelos, entre outros, antes das situações de exposição, da apresentação de um novo emprego, de uma entrevista, palestra ou até mesmo de um evento social em que o indivíduo irá ser apresentado a autoridades ou a pessoas de nível sociocultural elevado. Esta situação de medo poderá ser agravada durante o período de exposição e até ser paralisante em função da autoconsciência aguda – uma atenção exagerada ao próprio comportamento e aos seus sintomas – que, muitas vezes, não são percebidos pelas outras pessoas, mas os impede de ter um bom desempenho. Nestas condições, o mais cruel é que o próprio indivíduo é o seu maior crítico e observador.
Classificamos o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) ou Fobia Social em subcategorias:
__ Ansiedade social de desempenho ou ansiedade circunscrita a uma atividade. Assinar o próprio nome ou falar em público são os exemplos mais comuns.
__ Ansiedade social generalizada, que se caracteriza pelo temor de exposição a várias situações ao mesmo tempo, como trabalhar na frente de outras pessoas, dar ordens, paquerar, resistir a um vendedor insistente, usar banheiro público, etc.
O Transtorno de Ansiedade Social é o mais prevalente dentre os Transtornos de Ansiedade, tendo seu início entre a infância e adolescência que, quando não diagnosticado precocemente, pode perdurar até a vida adulta, causando grandes prejuízos nas diversos setores vitais do indivíduo: social, afetivo, acadêmico e/ou profissional. Embora acometa homens e mulheres em igual proporção, os prejuízos econômicos e laborais recaem mais nos indivíduos do sexo masculino, por uma questão cultural-econômica e pela necessidade de sustento familiar. Sendo assim, observamos que os homens são mais diagnosticados e procuram mais por tratamento adequado do que as mulheres.
Devemos estar atentos aos diversos transtornos associados (comorbidades) à Fobia Social como o abuso de álcool e outras substâncias tóxicas, depressão, transtornos de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros, que trazem limitações ao indivíduo, cujos desconfortos podem ser maiores do que a própria Fobia Social. Exatamente pelos prejuízos causados, muitas vezes, são as comorbidades que impulsionam o indivíduo a procurar tratamento especializado e não o Transtorno de Ansiedade Social em si. Contudo, com uma investigação mais cuidadosa, observamos que a causa real dos outros problemas existentes é a Fobia Social. Neste caso, devemos tratar o transtorno de base (transtorno primário) e também os transtornos associados para uma boa resposta terapêutica.
Antigamente achava-se que as causas do Transtorno de Ansiedade Social, eram puramente com base de alterações psicológicas; porém, hoje, temos como conceito bases de caráter hereditário (predisposição genética) associado à disfunção nos circuitos monoaminérgicos (dopoamina, serotonina, adrenalina). É como se o indivíduo desenvolvesse uma espécie de “alergia” a pessoas, envolvendo um sistema psiconeuroendócrino. Como explicar que um indivíduo, pode assinar um cheque numa sala vazia, mas se estiver numa sala com outras pessoas talvez nem consiga entrar, só em pensar em ser observado?
O tratamento do Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social tem como base o uso de medicamentos, associados à terapia cognitivo-comportamental (TCC). Com o tratamento eficaz estes indivíduos passam a readquirir uma postura mais segura em situações sociais, deixando o comportamento de esquiva tão prejudicial ao crescimento intelectual e produtivo, evitando, assim, perdas significativas de oportunidades nas diversas áreas no âmbito social, afetivo, escolar e profissional.
*Dr. João Luiz da Silva Salgado é médico e faz parte da equipe da Clínica Medicina do Comportamento da Dra. Ana Beatriz B. Silva – RJ.
Fonte: Medicina do Comportamento

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